Nossa história

 

Só distância. Caminho longo. Em cada passo o passado pra trás.

Só cansaço. Tédio e fuga. Em cada lembrança a esperança de esquecer.

No espaço comum, inóspito e comum, vários desejos flutuantes brindavam a mente dos amantes, dos ébrios, dos solitários. Todos vestindo o sorriso da descoberta, distantes mesmo da Vênus prima, cantavam achados preciosos. Embora os dois filhos do acaso inda nada cantassem, eram, neste cenário torpe, os principais artífices de estátuas imortais.

Cada qual representando em sua marca seu papel. Fiéis em suas falas. Obstinados em seu umbigo. Criando um mundo tão perfeito quanto falso, os nossos atores esperavam a physys de Baco, com seu vinho mágico e profano, pra selar o que nem a vida em seus melhores ensaios seria capaz de criar. De verdades em verdades, entre soluços e tragos, tudo o que se lhes cobria viera ao chão. Sem máscaras ou maquilagens, os dois estranhos apertavam as mãos num gesto de nítida controvérsia – amigos – os diferentes se tornam.

As vozes sibilam. Já não mais se sabe onde fala o homem ou onde cantam os deuses.  Toda a perfeição dos sabores brinda as línguas em êxtase. E os corpos, meros objetos em cena, tomam a forma do todo. Tudo está no corpo. Nem as palavras mais rebuscadas seriam capazes de deter ou florear o que eles agora eram. Por vários dias se ausentaram do mundo dos homens os dois amantes e em algum lugar jamais visitado, suas almas habitaram.

Ela perdida, simples e sincera. Ele vazio, triste e solitário. Viveram as delícias que já imagina o leitor sagaz. Mas o cantador das desventuras já anunciava: “pra sempre é sempre por um triz”. E findada a paz entre o dois reinos, o bruto homem foi capaz de empunhar em guerra a espada, e desferir vários golpes contra ela, contra tudo que acreditava. Dizem que ela inda vive e que ele vaga atrás de seu perdão. Portanto a estória talvez aqui não termine. E quem souber que a paz se vez de novo, conta-me depressa, que apresso meus passos de volta.

Henrique Souza

25 setembro 2009

Published in: on novembro 15, 2009 at 10:06 am  Deixe um comentário  

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